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Jornalismo humanizado é chave para combater desinformação e fake news sobre HIV/aids
13/12/2018 às 12:19:37
A desinformação sempre foi um inimigo perigoso e cruel desde a descoberta do HIV e da aids. Nos últimos tempos, com o crescimento da divulgação de fake news relativas a diversos temas, tornou-se ainda mais relevante discutir os efeitos e antídotos para esse fenômeno no noticiário sobre a doença que chega ao grande público.
O tema “Aids e fake news: é possível brecar esta nova onda?” abriu a programação do Fórum Aids e o Brasil, realizado no último dia 6, em São Paulo.
O professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP), Ricardo Alexino Ferreira lembrou que a recusa de se falar sobre HIV/aids pode ser igualmente nociva na abordagem da questão. “É importante perceber como a mídia quer tratar a aids. O jornalismo precisaria ser mais sincero e a educação sexual também mais efetiva”, destacou o educador, chamando atenção para dois polos fundamentais no combate à desinformação.
De acordo com o Boletim Epidemiológico HIV/Aids, do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis de 2018, nos últimos cinco anos, o Brasil registrou em média 40 mil novos casos de aids anualmente. “A pauta de aids foi caindo na imprensa e hoje ela só é lembrada em dias importantes: no Dia Mundial de Prevenção ou no Carnaval”, lamenta Wildney Feres Contrera, historiadora e mestre em Ciências da Comunicação.
Ativista histórica do movimento de aids, a historiadora também foi consultora externa da então coordenação de aids, de 1991 a 2002, avaliando projetos de informação, educação e comunicação. Autora do livro “Gapas uma resposta social à epidemia da Aids”, editado pelo Ministério da Saúde, em 2001, Wildney lembrou que, como os tratamentos para o vírus evoluíram muito, as pessoas têm baixado a guarda, o que comprovadamente tornou-se um perigo a mais. “Houve um relaxamento das campanhas de prevenção. Temos de tomar medidas preventivas. A aids ainda mata sim. Não é que a aids deixou de matar, deixou de ter a virulência de antes, mas sem tratamento mata”.
O crescimento de posturas conservadoras que tentam tirar do espaço público o debate e a propagação de informações corretas e responsáveis sobre aids e HIV também preocupa o trio de debatedores. “Uma das maiores fake news que está circulando agora é a da ideologia de gênero, que está sendo usada na questão da educação sexual”, alertou Helena Bertho, editora da revista AzMina e especializada em cobertura de gênero, direitos humanos, diversidade e sexualidade.
Alexino acrescentou que paralelamente ao fortalecimento do moralismo, o fato de órgãos públicos estarem tendo sua credibilidade colocada em cheque também trabalha contra programas de orientação sobre saúde. “Se eu não acredito no governo, por que vou atender ao chamado dele?”, destacou, fazendo um paralelo com as dificuldades de adesão encontradas à mais recente campanha de vacinação contra a poliomielite no país.
A própria forma de se trabalhar a temática de HIV/aids também foi objeto de questionamentos. “A comunicação deveria estar olhando como abordar a aids sem ser pelo viés do medo”, ressaltou Helena. Para ela, assim como para Alexino e Wildney, a valorização do jornalismo mais humanizado pode ajudar a sensibilizar o público para a questão.
“Na mídia, como a aids deixou de ser o fato do momento, as editorias esqueceram de arranjar fatos que façam valer uma grande matéria sobre aids”, lamentou Wildney. “A imprensa precisa resgatar a narrativa. A partir disso, as pessoas voltam a ser tocadas pelos fatos”, resumiu Alexino.
Dividido em quatro blocos, o Fórum Aids e o Brasil teve transmissão ao vivo por streaming e reuniu profissionais de diversas áreas para debater o assunto. O evento foi promovido pela Revista e Portal Imprensa, em parceria com o Ministério da Saúde e o curso de jornalismo da ESPM e teve o apoio do Unaids – programa da Organização das Nações Unidas para combater a doença.
*Revista Imprensa